
Num depoimento publicado no Folha da Manhã, Renato Casimiro assim escreve sobre o trabalho de Farkas: “O cinema tem sido um instrumento muito efetivo na divulgação da cultura regional, e particularmente de Juazeiro do Norte. Em Julho de 1972, eu participei, pela primeira vez, de um congresso de nível universitário. Tratava-se da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na Universidade de São Paulo, USP. Num frio miserável, eu ficava durante o recesso das horas de almoço, procurando alguma sala para me manter aquecido. Numa destas buscas, encontrei uma programação que estava sendo dirigida por Sérgio Muniz, com a projeção de filmes documentários sobre o Nordeste brasileiro, realizados pelo produtor Thomaz Farkas. Fazia parte da seleção os seguintes títulos: Memórias do Cangaço, de Paulo Gil Soares, Jornal do Sertão, Viva Cariri, Padre Cícero, Região Cariri, Visão de Juazeiro, de Eduardo Escorel, além de outros que não recordo. Estes filmes, com duração de 20 a 40 minutos, são fascinantes documentos de uma importante fase da cultura e do desenvolvimento do Cariri, nos anos 60-70. Alguns destes filmes foram exibidos por ocasião de simpósios havidos no Memorial Pe. Cícero, uma vez que estas cópias estão disponíveis em cinematecas, como a da UFC. Eles também estão em DVD, o que facilita muito a sua exibição. Memórias do Cangaço, por exemplo, é uma retrospectiva da vida no cangaço, pelas brenhas do sertão. O ponto mais elevado do documentário é a reprodução de um pedaço do filme original de Benjamim Abraão. Por um período ele fora secretário do Pe. Cícero, ao mesmo tempo em que, assistido tecnicamente pela ABA film, em Fortaleza, realizava pequenos documentários sobre os fatos do Juazeiro. Depois, como sabemos, ele se aproximou de Lampião, certamente com a mediação do Pe. Cícero, e conseguiu realizar a proeza de filmá-lo em plena caatinga. Este filme foi muito procurado pela polícia do estado novo, e supostamente se acredita que por esta via tenha sido parcialmente destruído. Eu nunca soube exatamente como esta parte usada por Paulo Gil Soares foi encontrada, e hoje está preservada. O filme é bem feito. Benjamim, para alguns, antecipou-se à própria concepção de cinema novo, onde prevalecia uma câmara na mão e uma idéia na cabeça, segundo o guru, Glauber Rocha. O Jornal do Sertão foi realizado na gráfica de Zé Bernardo, em frente a nossa casa, na rua Santa Luzia. O documentário mostra o artesanato do cordel, composto na mão, letra por letra. Em Viva Cariri o documentário aborda a industrialização do Cariri, através do projeto Morris Azimow, da Universidade da California. Faz um apanhado das indústrias que estavam se implantando na região, desencadeando um surto de aparente progresso no Cariri. São mostrados os contrastes que a região abrigava com uma pobreza periférica das cidades principais da região. Basicamente mostrava os conflitos da cidade do Pe. Cícero, e suas romarias, e as tentativas de desenvolvimento da região. Este documentário chegou a ter versões em espanhol e inglês, e correu muitos países. Padre Cícero é um curta metragem que enfoca a figura do padrinho do Juazeiro, ai incluindo cenas autênticas da vida do Pe. Cícero, como o dia a dia de sua casa, recebendo romeiros e passeando pela rua. Região Cariri mostra a questão da agricultura e do desenvolvimento da região, com seus engenhos, artesanato e demais aspectos relevantes, principalmente o papel do Pe. Cícero na formação desta sociedade. Visão de Juazeiro apresenta a cidade onde milhares de romeiros chegam para homenagear o seu padrinho, os santos de suas devoções, bem como para o pagamento de promessas junto aos altares e casas de milagres. Em 2005, toda esta produção de Thomaz Farkas foi apresentada em quatro dias no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, numa programação denominada Caravana Farkas, constando da exibição de 34 filmes e alguns debates com estudiosos de cultura popular.”
Um comentário:
Alguns desses filmes a respeito do Pe Cícero e do cariri játive oportunidade de vê-los na Tv Senado. Sempre que passa, paro para ver e maravilhar-se com a força de Pe Cícero e do cariri.
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