sábado, 29 de março de 2025

QUARTO DOMINGO DA QUARESMA: A parábola do filho pródigo

Quando o ser humano, criado por Deus e para ele, decide afastar-se do seu celeste criador, sucede-lhe coisa parecida com o que aconteceu ao filho mais jovem da parábola deste domingo, por meio da qual o filho de Deus deu-nos a conhecer a triste sorte que aguarda todos quantos resolvem distanciar-se de Deus. Houve um momento em que aquele jovem era feliz, quando vivia na abundância, junto de seu pai, tendo tudo a sua disposição e sem que absolutamente nada lhe faltasse. Diz-nos Jesus que aquele homem, depois de haver dissipado seus bens numa vida desregrada começou a passar necessidade. Nada costuma ser mais fatal para a criatura do que afastar-se do criador. Não passará muito tempo sem que sobrevenham necessidades de toda ordem. Lemos no texto que quando acabou de gastar tudo, uma grande fome sobreveio naquela região e ele começou a passar necessidades. O mundo está repleto de casos parecidos. Quantos e quantas há por aí que depois de dissiparem seus haveres, herdados ou adquiridos, começam a passar necessidades, vendo-se por vezes constrangidos por força de circunstâncias tristes e dolorosas a submeter-se a trabalhos humilhantes e ocupações degradantes! Quantos não há atualmente neste mundo que, tendo se afastado do bom pai que é Deus, bem que gostariam de encher o ventre depauperado com as bolotas que os porcos comem e nem sequer isso conseguem! Há legiões de miseráveis que em terras longínquas, longe de casa e do pai, amargam uma vida vazia e sem sentido, mergulhados nas trevas da dor, da tristeza e de um cruel desespero. Diz ainda o texto que caindo em si, disse a si mesmo: “quantos operários em casa de meu pai têm pão com fartura e eu aqui morrendo de fome!” Quando estava em casa tinha pão com fartura, mas longe de casa morre de fome; junto do pai, tinha alimento e moradia confortável, mas longe definha devorado pelo flagelo atroz da fome. Quem não se afastou tem pão em abundância, e ele, na condição de filho e de herdeiro, morre de fome. Qual é, pois, a causa de ter descido a tão triste estado de abjeção e penúria? Apenas uma: ter-se afastado da casa do pai! E o que Jesus narra na parábola não é o que se vê com bastante frequência neste nosso triste e conturbado mundo? Olhai a vossa volta e vereis milhões em situação ainda pior e mais deplorável do que a do filho jovem da narrativa deste domingo. Muitos estão longe do pai e por isso sentem-se pobres órfãos desamparados; muitos estão longe da verdadeira comida razão pela qual passam fome; muitos vivem habitualmente no pecado e por isso estão mortos , muitos romperam livremente com a fonte da água da vida e por isso vivem sempre sedentos, muitos enfim, estão fora do caminho e não é sem razão que vagam perdidos e desorientados. Aquele homem, porém, reconhecendo que errara, arrependeu-se e decidiu voltar. Felizmente, para quem se afastou de Deus é-lhe possível retornar para aquele de quem se quis afastar. Nosso Senhor ensina-nos ainda que passar por uma situação difícil pode fazer-nos refletir e voltar a nós mesmos. Oprimido pela fome e por uma série de angústias, longe de casa onde tinha tudo e do seu pai junto ao qual sentia-se seguro, diz-nos o texto, que ele caiu em si. É salutar passarmos de quando em vez por certos apertos terríveis para cairmos em si, isto é, para entrarmos em nós e refletirmos seriamente um pouco que seja sobre o que temos feito conosco e com a nossa existência. Eu não ousaria dizer que se não nos afastarmos de nosso pai celeste nunca nos acontecerá nada de desagradável ou ruim, o que seria faltar para com a verdade, mas ouso dizer que afastar-se de Deus será fatal e de consequências imprevisíveis se o afastamento se prolongar em excesso. Virão fome, sede, frio, miséria, desânimo, desalento e em casos mais extremos, a desistência da vida, a qual, sem Deus, não vale a pena. Dom Samuel(OSB)

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