domingo, 9 de novembro de 2025

 

                  DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO

                                                                  Texto bíblico: Jo 2, 13 – 22

                                                                  Data: 9 de novembro

                                                                  Dom Samuel OSB

Celebra-se hoje a dedicação da Basílica do Latrão, construída pelo imperador Constantino, mãe e cabeça de todas as igrejas da cidade de Roma e do mundo, catedral do Papa.

Se a Igreja universal celebra festivamente a igreja do Papa, sucessor de Pedro, parece-me que seria muito natural que a passagem evangélica deste domingo fosse aquela em que Cristo disse a Pedro que sobre ele edificaria a sua igreja, dando-lhe então de maneira simbólica as chaves do reino dos céus. No entanto, a Igreja põe diante dos nossos olhos a passagem que refere a expulsão dos vendilhões que haviam convertido o templo de Jerusalém, figura da Igreja, num antro de bandidos.

Aparentemente, pois, o texto proposto parece impróprio para a festa que hoje se celebra. Se, todavia, olharmos para a história da Igreja, não podemos deixar de reconhecer que em certos momentos sombrios convém-lhe.

Jesus, tendo feito um chicote com cordas, expulsou do templo vendedores de bois, de pombas e de ovelhas bem como a cambistas que ali se haviam instalados, espalhando o dinheiro e derrubando suas mesas.

Facilmente se compreende esta atitude de Jesus se se pensa em quem ele era e se consideramos o que o templo, em cujo interior absurdos estavam ocorrendo – significava à época. Se o templo era dedicado e consagrado a Deus, e sendo Jesus Deus, era muito natural que se indignasse com o que nele estava ocorrendo.

Lê-se no 23º capítulo do segundo livro dos Reis que o pio rei Josias “ordenou ao sumo sacerdote, aos segundos sacerdotes e aos guardas do limiar que mandassem retirar do templo do Senhor todos os objetos fabricados em honra de baal, de Asherá e de todo o exército celeste”. (2Rs 23, 4) Se pois, um rei mortal, ordenou que assim se fizesse, porque não convinha que certas coisas estivessem num espaço reservado e dedicado ao culto do único e  verdadeiro Deus, o que havia de fazer o homem-Deus quando encontrou o templo que também lhe era dedicado infestado de compradores e vendedores senão o que fez?

Não nos deve causar nenhuma estranheza que Cristo tenha encontrado no templo de Jerusalém, vendedores e cambistas, porque em sua Igreja, nas épocas mais sombrias, haveria vendedores e compradores de dignidades eclesiásticas, sem excluir a maior delas.

Quem conhece um pouco da história da Igreja, o novo templo de Deus, a construção espiritual erguida por Cristo para nela habitar e por meio dela iluminar e santificar o mundo, não ignora que no passado houve quem a quisesse converter numa casa de negócios. Dentro dela muita coisa foi comprada e muita coisa foi vendida a preço de ouro ou quem sabe até por preço módico!

Sabemos pelo Segundo livro dos Macabeus que dois homens indignos compraram por dinheiro a dignidade de sumo sacerdote. Se tais coisas indecentes sucederam no seio do povo da primitiva aliança, também ocorreram na história da Igreja que o Senhor Jesus fundou.

O evangelista Lucas relata nos Atos dos Apóstolos que um certo Simão quis comprar com dinheiro o dom de Deus, que é o Espírito Santo, para que aqueles a quem ele impusesse as mãos o recebessem. “Mas Simão, quando viu que o Espírito Santo era dado pela imposição das mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro. Concedei-me, disse, a mim também este poder, afim de que aqueles a quem eu impuser as mãos recebam o Espírito Santo”. (Atos, cap. 8, v. 18 – 19)

Quando o Senhor Jesus expulsou com um chicote de cordas as pessoas que comercializavam no templo apenas fez o que era preciso fazer. Agiu como Deus ofendido pela depravação humana!

Escreveu o apóstolo Paulo: “Não sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?  Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós”. (1Cor 3, 16 – 17). É certo que neste templo que somos nós há sem dúvida vendedores de bois, de pombas e cambistas, isto é, orgulho, vaidade, ambição, maledicência, falsidade, para só ficarmos com algumas coisas de que todos nós estamos cheios. Roguemos, pois, a Cristo, que outrora entrou no templo de Jerusalém, que entre no templo que somos nós e dele expulse tudo o que de menos digno aí encontrar. Entra Senhor, nós te pedimos e expulsa com teu divino poder quem nos tem prejudicado. Aqueles homens converteram o templo de Deus em um antro de bandidos. Nós, porém, podemos converter o templo de Deus que somos nós em algo incomparavelmente pior.

Cuidemos com desvelo deste templo que somos nós para que não nos suceda se torne ele um covil de ladrões, um antro de bandidos!

Se Jesus, sempre tão manso e tão misericordioso chegou a fazer uso do chicote, derrubando mesas e expulsando aqueles homens do templo, o que não deve ter sentido quando viu com seu divino olhar que tudo abarca homens no interior de sua Igreja comprando e vendendo! Se Jesus expulsou do templo de Jerusalém homens que compravam e vendiam animais irracionais, que não fará ele com aqueles que talvez pensem no seu íntimo que a casa de oração para todos os povos não passa talvez de um balcão de negócios onde tudo pode ser comprado e vendido por dinheiro? O templo de Deus, isto é, a sua Igreja, é santo e como lugar santo, onde Deus habita, há de ser respeitado.

Postado por Terezaq Neuma Macedo Marques.

Nenhum comentário: