DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO
Texto bíblico: Jo 2, 13 –
22
Data: 9 de novembro
Dom Samuel OSB
Celebra-se
hoje a dedicação da Basílica do Latrão, construída pelo imperador Constantino,
mãe e cabeça de todas as igrejas da cidade de Roma e do mundo, catedral do
Papa.
Se
a Igreja universal celebra festivamente a igreja do Papa, sucessor de Pedro,
parece-me que seria muito natural que a passagem evangélica deste domingo fosse
aquela em que Cristo disse a Pedro que sobre ele edificaria a sua igreja,
dando-lhe então de maneira simbólica as chaves do reino dos céus. No entanto, a
Igreja põe diante dos nossos olhos a passagem que refere a expulsão dos
vendilhões que haviam convertido o templo de Jerusalém, figura da Igreja, num
antro de bandidos.
Aparentemente,
pois, o texto proposto parece impróprio para a festa que hoje se celebra. Se,
todavia, olharmos para a história da Igreja, não podemos deixar de reconhecer
que em certos momentos sombrios convém-lhe.
Jesus,
tendo feito um chicote com cordas, expulsou do templo vendedores de bois, de
pombas e de ovelhas bem como a cambistas que ali se haviam instalados,
espalhando o dinheiro e derrubando suas mesas.
Facilmente
se compreende esta atitude de Jesus se se pensa em quem ele era e se consideramos
o que o templo, em cujo interior absurdos estavam ocorrendo – significava à
época. Se o templo era dedicado e consagrado a Deus, e sendo Jesus Deus, era
muito natural que se indignasse com o que nele estava ocorrendo.
Lê-se
no 23º capítulo do segundo livro dos Reis que o pio rei Josias “ordenou ao sumo
sacerdote, aos segundos sacerdotes e aos guardas do limiar que mandassem
retirar do templo do Senhor todos os objetos fabricados em honra de baal, de
Asherá e de todo o exército celeste”. (2Rs 23, 4) Se pois, um rei mortal,
ordenou que assim se fizesse, porque não convinha que certas coisas estivessem
num espaço reservado e dedicado ao culto do único e verdadeiro Deus, o que havia de fazer o
homem-Deus quando encontrou o templo que também lhe era dedicado infestado de
compradores e vendedores senão o que fez?
Não
nos deve causar nenhuma estranheza que Cristo tenha encontrado no templo de
Jerusalém, vendedores e cambistas, porque em sua Igreja, nas épocas mais
sombrias, haveria vendedores e compradores de dignidades eclesiásticas, sem
excluir a maior delas.
Quem
conhece um pouco da história da Igreja, o novo templo de Deus, a construção
espiritual erguida por Cristo para nela habitar e por meio dela iluminar e
santificar o mundo, não ignora que no passado houve quem a quisesse converter
numa casa de negócios. Dentro dela muita coisa foi comprada e muita coisa foi
vendida a preço de ouro ou quem sabe até por preço módico!
Sabemos
pelo Segundo livro dos Macabeus que dois homens indignos compraram por dinheiro
a dignidade de sumo sacerdote. Se tais coisas indecentes sucederam no seio do
povo da primitiva aliança, também ocorreram na história da Igreja que o Senhor
Jesus fundou.
O
evangelista Lucas relata nos Atos dos Apóstolos que um certo Simão quis comprar
com dinheiro o dom de Deus, que é o Espírito Santo, para que aqueles a quem ele
impusesse as mãos o recebessem. “Mas Simão, quando viu que o Espírito Santo era
dado pela imposição das mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro. Concedei-me,
disse, a mim também este poder, afim de que aqueles a quem eu impuser as mãos
recebam o Espírito Santo”. (Atos, cap. 8, v. 18 – 19)
Quando
o Senhor Jesus expulsou com um chicote de cordas as pessoas que comercializavam
no templo apenas fez o que era preciso fazer. Agiu como Deus ofendido pela
depravação humana!
Escreveu
o apóstolo Paulo: “Não sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito de
Deus habita em vós? Se alguém destrói o
templo de Deus, Deus o destruirá. Pois o templo de Deus é santo e esse templo
sois vós”. (1Cor 3, 16 – 17). É certo que neste templo que somos nós há sem
dúvida vendedores de bois, de pombas e cambistas, isto é, orgulho, vaidade,
ambição, maledicência, falsidade, para só ficarmos com algumas coisas de que
todos nós estamos cheios. Roguemos, pois, a Cristo, que outrora entrou no
templo de Jerusalém, que entre no templo que somos nós e dele expulse tudo o que
de menos digno aí encontrar. Entra Senhor, nós te pedimos e expulsa com teu
divino poder quem nos tem prejudicado. Aqueles homens converteram o templo de
Deus em um antro de bandidos. Nós, porém, podemos converter o templo de Deus
que somos nós em algo incomparavelmente pior.
Cuidemos
com desvelo deste templo que somos nós para que não nos suceda se torne ele um
covil de ladrões, um antro de bandidos!
Se
Jesus, sempre tão manso e tão misericordioso chegou a fazer uso do chicote,
derrubando mesas e expulsando aqueles homens do templo, o que não deve ter
sentido quando viu com seu divino olhar que tudo abarca homens no interior de
sua Igreja comprando e vendendo! Se Jesus expulsou do templo de Jerusalém
homens que compravam e vendiam animais irracionais, que não fará ele com
aqueles que talvez pensem no seu íntimo que a casa de oração para todos os
povos não passa talvez de um balcão de negócios onde tudo pode ser comprado e
vendido por dinheiro? O templo de Deus, isto é, a sua Igreja, é santo e como lugar
santo, onde Deus habita, há de ser respeitado.
Postado por Terezaq Neuma Macedo Marques.

Nenhum comentário:
Postar um comentário