terça-feira, 4 de novembro de 2025

                                   

                REFLEXÃO SOBRE FINADOS

                                                                 Dom Samuel, OSB

   Há quem considere a morte como um problema para o qual não há nenhuma solução, como algo de que ninguém vai escapar.

 A santa Igreja, porém, instruída pelo que o Deus Trindade lhe revelou acerca desta coisa misteriosa que desde os distantes primórdios da humanidade inquieta e preocupa os seres humanos, mesmo os que preferem não pensar nela de modo algum, empurrando-a para debaixo do tapete, nos ensina que a morte entrou neste mundo por causa da inveja do diabo assim como pelo pecado de Adão. A este respeito lê-se no livro da Sabedoria: “Pela inveja do diabo a morte entrou no mundo.” (Sb 2, 24)

Consumada a transgressão do primeiro homem no paraíso terreal, Deus lhe disse: “Tu és pó e ao pó hás de tornar.” Desde este infausto momento, todos os descendentes do primeiro casal que passou por este mundo nascem inapelavelmente condenados a morrer, de modo que passados uns poucos anos, o que sucedeu a Eva e a Adão, sucederá igualmente a cada um de nós.

Faça alguém o que quiser e fizer, mas ninguém escapará desta palavra da Escritura: “Ordenado ao homem morrer uma só vez.” (Hb, 9, 27)

Para os que pensam que com a morte tudo se acaba, nada havendo depois dela, resta apenas viver, não obstante a precariedade e brevidade da existência mortal. Quem assim pensa, não se preocupa em viver bem, mas tão somente em viver, seja lá de que modo for. As consequências de um tal modo de conceber a vida muitos só as experimentarão quando já não houver mais tempo para se endireitar os caminhos tortuosos e para se mudar de vida. Quem, todavia, olha para a morte iluminado pela luz sobrenatural da fé, sabe que precisa, enquanto ainda há tempo, preocupar-se com três coisas, todas elas ligadas umas as outras.  Deve preocupar-se em viver bem para morrer bem, porque sabe que vivendo bem, morrerá bem e morrendo bem, terá por graça de Deus uma eternidade feliz.

Foi pelo pecado que a morte entrou no mundo e é por causa do pecado que o ser humano morre para Deus e se precipita na ruina eterna, se acaso nele morrer endurecido, sem arrependimento sincero e verdadeiro.

Neste dia dois de novembro, devemos sim pensar nos que já foram, naqueles cujas almas já estão na eternidade, mas convém também pensar que um dia chegará a nossa vez de sair do tempo e adentrar no além morte, donde nunca mais sairemos.

Se é forçoso morrer, é sábio e sensato que ao menos de quando em vez, reservemos um tempo para pensar na morte, pedindo a Deus nos conceda em sua imensa misericórdia paterna a graça inestimável de uma boa e santa morte, a graça das graças, segundo juízo de homens doutos e entendidos, e da qual depende nada mais nada menos do que uma eternidade que tocará a cada um de nós.  Não nos esqueçamos, todavia, que para bem morrer, é preciso viver bem. Eis porque devemos nos esforçar para viver bem, do que há de resultar uma morte boa e por consequência necessária uma eternidade felicíssima junto do Pai, do Filho e do Espírito Santo, aos quais sejam dadas toda honra, glória e louvor agora e pelos séculos dos séculos. Amém.

 Salvador, dia 29 de Outubro do ano da graça do Senhor de 2025.

Postado por Tereza Neuma Macedo Marques


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