REFLEXÃO SOBRE FINADOS
Dom Samuel, OSB
A santa Igreja, porém, instruída pelo que o
Deus Trindade lhe revelou acerca desta coisa misteriosa que desde os distantes
primórdios da humanidade inquieta e preocupa os seres humanos, mesmo os que
preferem não pensar nela de modo algum, empurrando-a para debaixo do tapete,
nos ensina que a morte entrou neste mundo por causa da inveja do diabo assim
como pelo pecado de Adão. A este respeito lê-se no livro da Sabedoria: “Pela
inveja do diabo a morte entrou no mundo.” (Sb 2, 24)
Consumada
a transgressão do primeiro homem no paraíso terreal, Deus lhe disse: “Tu és pó
e ao pó hás de tornar.” Desde este infausto momento, todos os descendentes do
primeiro casal que passou por este mundo nascem inapelavelmente condenados a
morrer, de modo que passados uns poucos anos, o que sucedeu a Eva e a Adão,
sucederá igualmente a cada um de nós.
Faça
alguém o que quiser e fizer, mas ninguém escapará desta palavra da Escritura:
“Ordenado ao homem morrer uma só vez.” (Hb, 9, 27)
Para
os que pensam que com a morte tudo se acaba, nada havendo depois dela, resta
apenas viver, não obstante a precariedade e brevidade da existência mortal.
Quem assim pensa, não se preocupa em viver bem, mas tão somente em viver, seja
lá de que modo for. As consequências de um tal modo de conceber a vida muitos
só as experimentarão quando já não houver mais tempo para se endireitar os
caminhos tortuosos e para se mudar de vida. Quem, todavia, olha para a morte
iluminado pela luz sobrenatural da fé, sabe que precisa, enquanto ainda há
tempo, preocupar-se com três coisas, todas elas ligadas umas as outras. Deve preocupar-se em viver bem para morrer
bem, porque sabe que vivendo bem, morrerá bem e morrendo bem, terá por graça de
Deus uma eternidade feliz.
Foi
pelo pecado que a morte entrou no mundo e é por causa do pecado que o ser
humano morre para Deus e se precipita na ruina eterna, se acaso nele morrer
endurecido, sem arrependimento sincero e verdadeiro.
Neste
dia dois de novembro, devemos sim pensar nos que já foram, naqueles cujas almas
já estão na eternidade, mas convém também pensar que um dia chegará a nossa vez
de sair do tempo e adentrar no além morte, donde nunca mais sairemos.
Se
é forçoso morrer, é sábio e sensato que ao menos de quando em vez, reservemos
um tempo para pensar na morte, pedindo a Deus nos conceda em sua imensa
misericórdia paterna a graça inestimável de uma boa e santa morte, a graça das
graças, segundo juízo de homens doutos e entendidos, e da qual depende nada
mais nada menos do que uma eternidade que tocará a cada um de nós. Não nos esqueçamos, todavia, que para bem
morrer, é preciso viver bem. Eis porque devemos nos esforçar para viver bem, do
que há de resultar uma morte boa e por consequência necessária uma eternidade
felicíssima junto do Pai, do Filho e do Espírito Santo, aos quais sejam dadas
toda honra, glória e louvor agora e pelos séculos dos séculos. Amém.
Postado por Tereza Neuma Macedo Marques

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