domingo, 31 de agosto de 2025


                               

          22º DOMINGO DO TEMPO COMUM 

                                                       Texto: 14, 1. 7 – 14

                                              Dom Samuel OSB

                                              Data: 31 de agosto

 Tendo Jesus observado em certa ocasião que convidados (é possível que para alguma festa) escolhiam os primeiros lugares, disse-lhes uma parábola, porque viu que eles procuravam as alturas.

Não sei se há vício que tenha mais fundas raízes no corrompido coração humano do que este tolo, fútil e inútil desejo de ocupar o primeiro lugar, vício aliás tão antigo quanto a mesma humanidade e que já causou a queda de não poucos ao longo dos séculos no mundo secular e na Igreja de Cristo.

Por que razão deseja um ser humano ocupar o primeiro lugar não é simples sabê-lo, mas pode-se dizer com base na experiência que quase não há neste mundo quem não queira bem lá no íntimo dar ordens nem que seja a um humilde criado. Quem há, pois, que não suspire pelo primeiro lugar estando disposto em muitos casos a fazer qualquer negócio para o obter? Seguramente não o procuram os sábios que usam a razão e os santos que acrescentam a ela a luz sobrenatural da fé!

Quando os dois filhos de Zebedeu, manifestaram a Jesus o desejo de se assentarem no reino de Deus um à sua direita e outro a sua esquerda, Jesus os reprendeu, dizendo-lhes que não sabiam o que pediam, e disse bem, porque se alguém soubesse o que pede quando deseja certas coisas, por certo que nem as pediria e muito menos as desejaria.

Quando Adão foi posto no paraíso era ali o “primeiro”, porque não havia outro.  Sendo, todavia, o primeiro, foi dali expulso. Saul foi o primeiro em Israel, ocupando o trono, mas terminou a vida atirando-se sobre a ponta da sua espada. Pedro foi o primeiro no grupo dos apóstolos, mas terminou sua vida crucificado de cabeça para baixo. Getúlio Vargas, ocupava o primeiro lugar no Brasil no ano de 1954, mas terminou a vida desfechando um tiro no peito.

Os seres humanos gostam do perigo e é por isso que muitos perecem miseravelmente. Muitas vezes a desgraça de alguém tem início no exato instante em que a pessoa ascende ao primeiro lugar. Aí chegando, começa um doloroso martírio cujo fim costuma ser não raro ou trágico ou sumamente infeliz.

Os primeiros lugares são tão espinhosos que aqueles que os ocupam via de regra vivem sempre incomodados ou aborrecidos por um ou mais motivos. Imagino que o sono do prefeito de uma cidade não deve ser dos mais tranquilos e a vida de um governador de Estado não deve ser das mais invejáveis, não obstante o brilho fugaz de pompa ilusória que a cerca. Se alguém tem dúvidas que assim seja, dê-se ao trabalho de pesquisar como foi a vida de muitos poderosos que chegaram ao poder e de que modo terminaram.

Os primeiros lugares, conquanto sejam os mais desejados pelos insensatos, são os mais perigosos, seja pelo grande mal que fazem a saúde, seja pelo risco em que colocam aqueles que os ocupam de se perderam eternamente. Certo bispo que a Igreja elevou as honras dos altares, disse certa vez: “Nunca tive tanto medo de ser excluído do número dos eleitos como depois que me tornei bispo”.

Reflexões como estas deveriam bastar para que por nada desejemos os primeiros lugares e em caso de nos serem oferecido sem que os tenhamos procurado, nada tendo feito para os ocupar, é mais seguro rejeitá-los como fizeram os mais sábios e sensatos de todas as épocas. Os lugares mais tranquilos e seguros são os que ninguém deseja, aqueles para cuja obtenção ninguém se dispõe a mover céus e terra.

Além disto, devemos ainda considerar que aqueles a quem o mundo enganosamente eleva e aplaude poderão ser rebaixados no dia do juízo, isso quando o rebaixamento já não começa antes que a morte chegue. Aí está o grande livro da história para nos mostrar quantas súbitas derrocadas de milionários tornados mendigos de um dia para o outro ou de presidentes depostos dos seus cargos por tramas ardilosas!

 “Não ambicioneis coisas grandes, é conselho do apóstolo Paulo, mas acomodai o vosso coração ao que é humilde”.

Por fim, demos preferência a segurança e paz proporcionadas pelos últimos lugares, pelos que ninguém disputa nem deseja, e não queiramos correr risco no alto, onde os ventos sopram com mais violência e donde a queda costuma ser quase sempre fatal.


Postado por Tereza Neuma Macedo Marques

 

 

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