22º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Texto: 14, 1. 7 – 14
Dom Samuel OSB
Data: 31 de agosto
Não
sei se há vício que tenha mais fundas raízes no corrompido coração humano do
que este tolo, fútil e inútil desejo de ocupar o primeiro lugar, vício aliás
tão antigo quanto a mesma humanidade e que já causou a queda de não poucos ao
longo dos séculos no mundo secular e na Igreja de Cristo.
Por
que razão deseja um ser humano ocupar o primeiro lugar não é simples sabê-lo,
mas pode-se dizer com base na experiência que quase não há neste mundo quem não
queira bem lá no íntimo dar ordens nem que seja a um humilde criado. Quem há,
pois, que não suspire pelo primeiro lugar estando disposto em muitos casos a
fazer qualquer negócio para o obter? Seguramente não o procuram os sábios que
usam a razão e os santos que acrescentam a ela a luz sobrenatural da fé!
Quando
os dois filhos de Zebedeu, manifestaram a Jesus o desejo de se assentarem no
reino de Deus um à sua direita e outro a sua esquerda, Jesus os reprendeu,
dizendo-lhes que não sabiam o que pediam, e disse bem, porque se alguém
soubesse o que pede quando deseja certas coisas, por certo que nem as pediria e
muito menos as desejaria.
Quando
Adão foi posto no paraíso era ali o “primeiro”, porque não havia outro. Sendo, todavia, o primeiro, foi dali expulso.
Saul foi o primeiro em Israel, ocupando o trono, mas terminou a vida
atirando-se sobre a ponta da sua espada. Pedro foi o primeiro no grupo dos apóstolos,
mas terminou sua vida crucificado de cabeça para baixo. Getúlio Vargas, ocupava
o primeiro lugar no Brasil no ano de 1954, mas terminou a vida desfechando um
tiro no peito.
Os
seres humanos gostam do perigo e é por isso que muitos perecem miseravelmente.
Muitas vezes a desgraça de alguém tem início no exato instante em que a pessoa
ascende ao primeiro lugar. Aí chegando, começa um doloroso martírio cujo fim costuma
ser não raro ou trágico ou sumamente infeliz.
Os
primeiros lugares são tão espinhosos que aqueles que os ocupam via de regra
vivem sempre incomodados ou aborrecidos por um ou mais motivos. Imagino que o
sono do prefeito de uma cidade não deve ser dos mais tranquilos e a vida de um
governador de Estado não deve ser das mais invejáveis, não obstante o brilho
fugaz de pompa ilusória que a cerca. Se alguém tem dúvidas que assim seja,
dê-se ao trabalho de pesquisar como foi a vida de muitos poderosos que chegaram
ao poder e de que modo terminaram.
Os
primeiros lugares, conquanto sejam os mais desejados pelos insensatos, são os
mais perigosos, seja pelo grande mal que fazem a saúde, seja pelo risco em que
colocam aqueles que os ocupam de se perderam eternamente. Certo bispo que a
Igreja elevou as honras dos altares, disse certa vez: “Nunca tive tanto medo de
ser excluído do número dos eleitos como depois que me tornei bispo”.
Reflexões
como estas deveriam bastar para que por nada desejemos os primeiros lugares e
em caso de nos serem oferecido sem que os tenhamos procurado, nada tendo feito
para os ocupar, é mais seguro rejeitá-los como fizeram os mais sábios e
sensatos de todas as épocas. Os lugares mais tranquilos e seguros são os que
ninguém deseja, aqueles para cuja obtenção ninguém se dispõe a mover céus e
terra.
Além
disto, devemos ainda considerar que aqueles a quem o mundo enganosamente eleva
e aplaude poderão ser rebaixados no dia do juízo, isso quando o rebaixamento já
não começa antes que a morte chegue. Aí está o grande livro da história para
nos mostrar quantas súbitas derrocadas de milionários tornados mendigos de um
dia para o outro ou de presidentes depostos dos seus cargos por tramas ardilosas!
“Não ambicioneis coisas grandes, é conselho do
apóstolo Paulo, mas acomodai o vosso coração ao que é humilde”.
Por
fim, demos preferência a segurança e paz proporcionadas pelos últimos lugares,
pelos que ninguém disputa nem deseja, e não queiramos correr risco no alto,
onde os ventos sopram com mais violência e donde a queda costuma ser quase
sempre fatal.
Postado por Tereza Neuma Macedo Marques
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