Neste Domingo, aos demasiados
apegados a pessoas, ainda que próximas, Jesus diz: “Se alguém vier a mim sem me
preferir a pai, mãe, mulher, irmãos...não pode ser meu discípulo”. Aos que não
estão dispostos ao sacrifício e a renúncia radical de si mesmos por causa dele,
diz: “quem não carrega sua cruz e não vem em meu seguimento não pode ser meu
discípulo”. E por fim, diz aos apegados a coisas e bens, dos quais este mundo
está cheio: “Quem não renuncia a tudo o que lhe pertence não pode ser meu
discípulo”.
Quem quer que ame além da justa e
razoável medida pessoas, sejam estas parentes ou não, dificilmente quererá
tomar a sua cruz para seguir Jesus, e menos ainda terá disposição para
renunciar a tudo o que lhe pertence. Certo jovem rico, quando ouviu da boca do
Senhor o que era preciso fazer para ser perfeito, retirou-se triste, porque,
segundo o evangelista, possuía muitos bens, dos quais não quis abrir mão para tornar-se
discípulo do Senhor. Quem quer que seja apegado a pessoas também o será tanto a
si mesmo como a coisas que possua. Eis porque é tão difícil ser discípulo! O Novo Testamento se refere a apenas 72
discípulos, o que não é um número grande, além dos doze apóstolos.
A menos que ponhamos Jesus muito
acima de tudo aquilo que nos é mais caro neste mundo e nesta vida não podemos
decididamente tornar-nos seus discípulos, conforme ele mesmo nos diz neste
domingo. Quem pois não pode ser discípulo de Jesus? Quem anteponha alguma coisa
ou alguém a ele, não pode ser seu discípulo, assim como quem não esteja
disposto a carregar a sua cruz e a renunciar a tudo quanto lhe pertence.
Se aqueles que Jesus chamou ao seu
seguimento tivessem permanecido junto dos seus entes queridos, se aqueles
pescadores não tivessem abandonado as suas redes e não tivessem se afastado do
mar, onde cotidianamente labutavam, até poderiam ter se tornado admiradores de
Jesus, mas, certamente jamais teriam se tornado seus discípulos. Se não se
tivessem posto a segui-lo, quando a sua voz ressoou aos seus ouvidos, deixando
para trás tudo o que até então julgavam importante, nunca teriam se tornado
seus discípulos. Quem pois não preferir Jesus aos seus mais íntimos e a tudo
quanto tenha não pode ser discípulo do Senhor. Quereis ser discípulos daquele
que colocou a vontade do Pai acima da sua, daquele que se fez obediente até a
morte e morte de cruz? Anteponde-o a tudo o que amais, colocai-o acima de tudo
quanto tendes por importante e essencial para vós, pois do contrário não
podereis de modo algum ser seus discípulos.
Naturalmente que nós não podemos deixar de
amar pai, mãe, filhos, irmãos e irmãs e, é justo que o façamos, já que Deus
assim o ordenou. Não podemos, todavia, amar seja quem for mais do que aquele
que primeiro nos amou, dando por nós a sua vida na cruz para nos salvar. Um pai
há de amar o seu filho sem dúvida, mas não deve amá-lo mais do que a Cristo.
Uma mulher deve amar seu esposo, mas nunca mais do que ao seu Deus e Senhor,
porque Deus deve ser o primeiro não apenas a ser amado, mas também a ser
servido.
Notemos que Jesus não disse ser
necessário não amar outras pessoas para amá-lo ou que amar a ele é incompatível
com amar os outros, senão, que quem não o ama mais que qualquer outra coisa ou
pessoa não pode ser seu discípulo. Ama pois teu pai, tua mãe, teu filho, se
tiveres um, tua esposa, se fores casado, teu esposo se fores casada, mas não
ames ninguém neste mundo mais que a teu Deus e Senhor, que merece que o ames
acima de todas as coisas e o coloques antes de todos.
Cristo nos ama mais do que um pai ama
seu filho e mais do que este o ama e por isso merece que o amemos mais que
todos e mais que tudo.
Não podemos negar que são duras as
palavras do Evangelho deste domingo, mas não podemos nos esquecer que são
palavras de Deus, palavras de vida eterna.
Eis aí, posta diante dos nossos olhos
a tríplice condição para nos tornarmos discípulos de tão grande mestre. A nós
compete cumpri-las se de fato queremos nos tornar discípulos de Jesus. Que
prefiramos o Senhor Jesus a todos, não hesitando em o preferir a pai, mãe,
filho, irmão e até a própria vida, eis a primeira condição; que tomemos nossa
cruz e o sigamos, eis a segunda. Por fim, a terceira consiste em que
renunciemos a tudo o que nos pertence. E se acaso não tenhamos ao que
renunciar, renunciemos ao simples desejo de ter o que não for estritamente
necessário para vivermos dignamente.
Quem é pai, ame seus filhos, mas não
os ame mais do que a Cristo. Quem é mãe, esposa, esposo, filho, faça a mesma
coisa relativamente aquele ou aquela a quem deve amar, tendo, porém, o cuidado
de jamais colocar coisa alguma ou pessoa no lugar de quem deve ser amado antes
de tudo e acima de todas as coisas, o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
a quem se há de dar, juntamente com o Espirito Santo, toda honra, louvor e ação
de graças, agora e pelos séculos dos séculos. Amém.
Postado por Tereza Neuma Macedo Marques

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